Deolira Glicéria Pedro da Silva é uma viajante do tempo. Ela nasceu antes do voo do 14 Bis, do primeiro Campeonato Carioca e da invenção da televisão. Ao nascer, o mapa-múndi era muito diferente, sem muitos dos países atuais. Nasceu sob o governo de Rodrigues Alves e contava 9 anos no início da I Guerra Mundial. Nessa segunda-feira (10), ela celebrou os 120 anos desta longa jornada, em sua casa, no bairro Frigorífico, em Itaperuna, no Noroeste Fluminense.
O bolo de aniversário precisa ser bem grande caso os três filhos, 20 netos, 40 bisnetos e 37 tataranetos resolvam comparecer à comemoração. Os descendentes se referem a ela como o “Terror do INSS”, tema inclusive de seu aniversário de 117 anos. No ano passado, o tema foi a “Mulher Maravilha”. O tema para os 120 anos ainda não foi definido.
A data significa muito, embora Deolira ainda não figure no topo do ranking mundial das pessoas mais longevas do mundo. Outra brasileira, a freira gaúcha Inah Canabarro Lucas, quatro anos mais jovem, ocupa a posição, após reconhecimento do Gerontology Research Group, instituição científica que valida a idade dos supercentenários. A religiosa nasceu em 27 de maio de 1908 em São Francisco de Assis, no Rio Grande do Sul.
Deolira precisa apresentar mais um documento para ter sua idade reconhecida. Ela já possui certidão de nascimento e identidade, mas não é o suficiente. Tudo porque em 1977 a casa em que morava sofreu uma grande enchente e os originais se perderam. A emissão dos novos documentos ocorreu a partir desta data. Se conseguir comprovar a idade, Deolira estará a dois anos de se tornar o ser humano mais longevo de todos os tempos.
O médico Juair Abreu Pereira, que cuida de Deolira há três anos, colabora na tentativa de se obter o registro de batismo da idosa, nascida em 10 de março de 1905, na área rural de Porciúncula, no Noroeste Fluminense, município vizinho de Itaperuna. As buscas se estendem até Tombos, município mineiro na divisa do o Rio, como na Paróquia da Imaculada Conceição.
— Fomos a cartórios e buscamos registros junto à paróquia. Vi escritas de livros muito antigos. A paróquia data de 1852 e existem relatos de batismo e de casamentos. Os padres mesmo faziam os registros nos livros — conta o médico, que ainda procura por registro em outras igrejas da região.
Fonte: O Globo