Aos 83 anos, a rotina da dona Licy Gomes de Souza mudou. Todas as noites ela se arruma, coloca tênis, meia, passa batom e vai para a Escola Municipal Professora Olga Linhares Corrêa, no Calabouço, onde se matriculou numa das turmas da Educação para Jovens e Adultos (EJA). Assim como Licy, ano passado, 3.046 alunos de Campos se matricularam na EJA. Este ano, até o Carnaval, o número de matriculados era de 2.995 estudantes. As matrículas continuam abertas até o final deste mês.
A diretora da escola, Danielle Mothé, conta que Licy tinha uma neta matriculada na Olga Linhares e sempre esteve muito presente no local. A neta se formou e a aposentada descobriu que havia aberto inscrições para a EJA. “Ela chegou na escola dizendo que queria estudar. Achamos que seria “fogo de palha”, mas, que nada! É uma das alunas mais aplicadas. Tem uma letra impecável, é muito caprichosa, não falta uma aula. É encantadora e já está conseguindo ler e escrever algumas palavras”, conta Danielle.
Assim como Licy, o aluno Fidélis Galdino Filho, de 59 anos, também viu a vida mudar através da EJA. Analfabeto, tinha dificuldades para conseguir emprego. Ele nasceu no interior de Campos e não conseguiu frequentar a escola porque era muito distante de sua casa. Os pais também não tiveram acesso à educação. Na adolescência, começou a trabalhar com 15 anos e não tinha tempo para estudar. Mas, Fidélis não desistiu do sonho de aprender a ler e escrever. Se matriculou no Colégio 29 de Maio, lutou contra o cansaço e, mesmo exausto, após um dia inteiro de trabalho, ele não desistiu e fez o curso no período noturno. A pandemia também trouxe dias difíceis. Mas, ele contou com a ajuda dos professores, não desistiu do sonho e, ano passado, concluiu o Ensino Fundamental. “Eu me sinto grato a cada professor que me ajudou a seguir pelos caminhos da educação”, diz Fidélis.
EJA – A coordenadora da EJA, Greice Souza, diz que, em todo município 29 escolas oferecem a Educação para Jovens e Adultos. Para fazer a matrícula é necessário ter mais de 15 anos e se dirigir à unidade escolar mais próxima da residência, com documentos pessoais como Identidade, CPF e comprovante de residência. Greice ressalta ainda que os professores que trabalham com esse público passam por treinamento específico, cursos de capacitação e contam ainda com todo suporte pedagógico.
“A EJA é o resgate do ser humano com um todo. É a oportunidade que ele tem de voltar a sonhar, a viver e de ter de volta sua identidade. A EJA representa ainda a possibilidade do aluno vivenciar a leitura, escrita e, também, de ser inserido no mercado de trabalho ou conseguir um emprego melhor”, acredita Greice.